Ainda sentado lendo, veio sobre minha mente aquele espaço vazio que logo se ocuparia de algum pensamento que o conectava com algo ou alguém. Naquele instante o livro me reportou a um amigo. Ele tinha me falado há uns meses atrás que haveria terminado seu relacionamento de longa data pelo fato dela querer que ele se transformasse no que ela esperava. Assim, me reportei a Matrix, a um modelo de sociedade construído em forma de caixas. Lembrei-me também da musica Geração Coca-cola (Legião Urbana) e suas frases de efeito.
Essa lacuna de pensamento me fez perceber que as correntes as quais a sociedade nos impõe, são tão fortes quanto às de Andrômeda, mas que precisamos ser Perseu para quebrá-las. Mas muitas vezes por medo do novo nos deixamos acorrentar novamente, e como Warat fala em seu livro Territórios desconhecidos, estamos inclusos em nossa formação o modelo de infância, de pai, de casamento, todos construídos em nome do dever e da verdade. E meu amigo me mostrou que nada do que ele havia me dito fazia mais sentido – de que não seria moldado a padrões os quais ele não acredita, e mesmo assim, voltou a fazer de sua vida um dever ser. Talvez não tenha percebido, mas ele acabou se tornando mais um dentro do enlatado. De certa forma eu saberia que isso talvez acontecesse, pois ele me disse que não queria ser igual, mas foi criado de uma forma a qual ele não conseguiria transgredir todas as regras. Warat assim como Nietsche têm razão – “A castração como ideologia”.
Então questiono. Porque não nos libertamos dessa castração? Porque entre nós não existe um desejo verdadeiro, e sim uma moral instituída? Warat fala que a castração é, sobretudo, a poda dos desejos. Posso, assim, afirmar que tudo que me é posto não pode ser verdade, mas que o dever em mim consternado teria que ser tomado como tal. E porque temer ou novo, se tudo que é novo pode ser belo? Alguém uma vez me disse que nunca seriamos perfeitos, mas seriamos belos porque somos humanos. Esse seria meu desejo, não só para meu amigo, mas para vocês que estão lendo, sermos humanos. E nisso, está incluso o desejo, de ser feliz e não de voltar ao passado, e reviver o passado como um futuro promissor, por que no futuro não está incluso o que passou, mas sim novas experiências.
(Continua)
Referência: WARAT, Luiz Alberto. Territórios desconhecidos. 2004
Imagem:http://pt.wikipedia.org/wiki/Andr%C3%B4meda - acesso em 23/03/2009